Genética, pastagem e gestão de pessoas compõem a fazenda Periquitos
Do asfalto até a fazenda, cerca de 20 km de terra. Duas pontes de madeiras e um córrego cruzando os 9.958 hectares compõem a bela paisagem. Estamos falando do córrego Periquitos, este que foi a inspiração para a fazenda receber este belo nome e que corta a propriedade, dividindo dois municípios, Três Lagoas e Selvíria.
Com uma natureza exuberante, a fazenda de cria é modelo por ter processos definidos, resultados alcançados e uma gestão de pessoas, onde o colaborador tem atitude de dono, contribuindo para que os resultados tornem-se melhores a cada dia.
Cristiane Pirola Narimatsu é a gerente da fazenda. Nesses 12 anos trabalhando nessa atividade, Cristiane formou-se em engenharia química, fez mestrado e doutorado e diz que seu pai falou sobre o emprego na fazenda e ela veio conhecer. “Em 2000 eu estava estudando quando meu pai disse que estavam precisando de alguém para assinar os projetos. Vim, conheci e me apaixonei. A fazenda é de 1977 e ficou conhecida principalmente depois do projeto com água de coco, pois tínhamos 10 mil pés de cocos e montamos uma unidade de envase de água de coco. No ano seguinte, abrimos outra em São Paulo. Em 2005, depois do foco de aftosa no estado, resolvemos fechar a unidade de SP e em 2006 a unidade daqui. Era um projeto bonito, mas chegamos à conclusão que era injusto a pecuária ter que subsidiar a operação. Essa atividade hoje não existe, porém, trabalhamos com o gado”, reforça.
Nova etapa
Reforma de pasto, genética e melhoramento também foram desenvolvidos na fazenda Periquitos. “Não trabalhamos com gado P.O, mas fazemos o melhoramento genético através de um programa de avaliação de matrizes e das progênies na desmama e sobreano. Aqui é uma fazenda de cria. Temos matrizes que produzem bezerros e vendemos aos oito meses para quem quer engordar. Trabalhamos com um setor de vacas multíparas de melhoramento do nelore, outro setor onde fazemos cruzamento industrial com Angus, um setor só de recria de fêmeas, outro de novilhas em reprodução e o de primíparas. Toda fêmea Nelore fica para nós e vendemos as Angus. Hoje ainda só focamos na cria. A vaca que não ficar prenhe vai embora. Fazemos também 100% de IATF em todos as fêmeas, seguido do repasse com touros”.
A fazenda possui mais de 12 mil cabeças de gado. A metade é vaca de cria. "O diferencial da fazenda Periquitos é que temos um gado muito bom. Isso tudo é genética. Conseguimos, pois investimos no gado. A primeira coisa é o dono gostar da causa. A fazenda precisa se manter e dar lucro. Hoje ela está dando resultado”, reforça a gerente.
Tecnologia e gestão
Narimatsu diz ainda que todos os animais são rastreados no nascimento. “Eles são brincados e as informações alimentam constantemente o programa de controle de rebanho. Quando nasce o bezerro já colocamos o brinco de rastreamento, que hoje é usado muito mais para a gestão da fazenda do que pelo lucro que a rastreabilidade pode nos trazer. Com isso, sabemos data nascimento, o lote, pasto, o setor onde cada animal está. Temos auditorias anuais de contagem do rebanho. Isso é gestão e controle. Só se controla, o que se conhece”.
Para a boa gestão da fazenda, a gerente diz que a informatização também é fundamental. “Se o meu pessoal não passar uma informação precisa, eu irei alimentar de forma errada. A pessoa precisa saber o mínimo dos processos, planilhas, etc. Toda a informação correta irá influenciar nas decisões da fazenda. O investimento em informatização é fundamental. Hoje temos aulas de informática para as pessoas que trabalham aqui e suas famílias (esposas e filhos) na fazenda e eles adoram, pois aprendem e colocam em prática no serviço. A informatização está em tudo, desde os maquinários até os processos”, conclui.
Estação de Monta
Durante os doze meses do ano, a fazenda Periquitos trabalha incansavelmente. “Hoje não temos uma estação de monta tradicional. Aqui o gado pari o ano todo. Cada lote tem sua estação de monta e todo mês temos IATF, diagnósticos de gestação, manejos sanitários dos bezerros, desmama, etc. Assim que nasce o bezerro, marcamos e temos a data. Após 40 dias da parição já fazemos a IATF no lote e após 15 dias, vem o repasse com touros ceipados, por mais 3 meses. Após esse período retiramos os touros e fazemos o diagnóstico de gestação na desmama dos bezerros. Todas vacas vazias são descartadas”.
Cristiane diz que esse processo é o grande diferencial da fazenda. “É trabalhoso, mas temos animais para venda durante todo o ano, inclusive em épocas onde não há oferta de bezerros, desvinculando das oscilações de preços que podem ocorrer durante o ano. Também estamos inseminando as novilhas com 15-16 meses. Ocorre que com 26-27 meses elas começam a parir. A novilha é muito nova ainda. Tem gente que coloca o animal em estação em 24 meses. Com 24 meses estamos descartando a novilha vazia. A primípara é a categoria mais exigente em uma fazenda de cria, pois ela está crescendo ainda, tem que alimentar o bezerro que está no pé e tem que estar prenhe de outro. Deixamos ela em um setor separado para avaliar. A reconcepção é um dos desafios desta categoria. Hoje temos índices de 85 % de reconcepção com a IATF. Não damos ração e elas comem sal normal, como as demais vacas. Com o melhoramento genético e também melhoria das pastagens, conseguimos melhorar esses índices”.
Período das águas
Nesse período, o pasto da fazenda Periquitos está de dar inveja, porém, a gerente diz que já passaram por grandes dificuldades com a seca. “A seca de 2010 foi muito difícil. Morreram até algumas vacas de deficiência nutricional. Nos últimos dois anos temos sofrido menos com a seca. Temos um manejo rotacionado de pastagem e um projeto de produção de feno para alimentação do gado. Quem engorda tem que ter sempre um pasto bom, pois é dinheiro para o dono. A vaca é mais fácil, pois mesmo que ela perca score corporal em um momento, ela irá recuperar em outro. Se for para escolher, penalizamos as que já estão prenhes. Se na seca a vaca emagrecer um pouco, mas tivermos previsão de uma balanço de ganho de peso positivo nos próximos meses, temos mantido a IATF, pois quando entramos no período das águas, temos fartura”.
Valores
Os gados são vendidos na região para os pecuaristas. Cristiane diz que nos últimos três anos o ciclo pecuário tem favorecido em muito a cria e o valor de venda melhorou significativamente. “Nos últimos meses temos vendido um bezerro, de 8 meses, bem acima do indicador Esalq para média de preços no MS. As vendas ocorrem na fazenda. Quando temos um lote, divulgamos e o comprador busca o gado”.
Pessoal
A fazenda conta com 28 colaboradores e 25 famílias. No total são cerca de 70 pessoas que moram na fazenda. As práticas de gestão de pessoas são aplicadas, buscando capacitar constantemente o quadro de colaboradores, em parceria com o Sindicato Rural e o SENAR.
Para Gilberto Pereira da Silva, que trabalha há 15 anos na fazenda Periquitos, “tudo é muito definido aqui. Trabalho no C2, que é voltado ao melhoramento das matrizes. Não tenho o que falar da fazenda. É minha vida e tudo muito bom. Estou fazendo um curso de informática, a fazenda ajudou a comprar nossos computadores e valoriza muito os funcionários. Hoje o ônibus passa na casa das pessoas que moram aqui para levar os alunos para a escola. Isso é muito bom”.
Valdir Alves da Silva também trabalha na fazenda e diz estar muito feliz. “Cuido do gado, da tropa. Desde 1984 estou aqui. Algo que me impressionou bastante é que a cada ano que passa, vejo a evolução dessa fazenda. Tudo está funcionando. Temos que agradecer imensamente. Hoje faço aula de informática, já consigo entrar em alguns sites e olhar as informações no facebook”.
Já para José Divino dos Santos, que tem 48 anos, a fazenda representa muito em sua vida. “Sou tratorista e adoro trabalhar aqui. Hoje os tratores são cabinados e a empresa trabalha pensando em nós”.
Regras
Na fazenda também existem regras e muito trabalho. “Estamos nos enquadrando na NR-31 de Segurança do Trabalho no Meio Rural. Fornecemos EPIs. Um exemplo é o colaborador que pulveriza e precisa estar protegido. Trabalhamos uniformizados e o nosso maior desafio é manter o time integrado sempre. Hoje temos conseguido graças ao empenho do dono e o comprometimento da equipe. Lidero 27 homens. Não tenho problemas com eles, pois são mais tranquilos e fazem o diálogo fluir mais fácil”, reforça Narimatsu.
Os colaboradores possuem um valor na participação dos lucros da empresa, vale alimentação, metas individuais de produtividade, plano de saúde estendido também às famílias e horas extras.
Diversificação
Em uma região que não é acostumada com a soja, o maior desafio foi diversificar a atividade. “Hoje já estamos diversificando também com a soja. Na região não é comum. Meu patrão é um empreendedor nato e tem muita simpatia pela agricultura. Difícil segurá-lo (risos). Com isso, visitamos algumas fazendas na região, que plantam em solos arenosos, participamos de dias de campo, falamos com consultores e em 2013 iniciamos o projeto de soja. É a nossa terceira safra. É um projeto inicial para chegar nos 800 hectares. No primeiro ano foram 190 hectares, no segundo 345 e no terceiro, mantivemos a área de 345 hectares, pois decidimos consolidar a área e melhorar a produtividade, pois a soja precisa se pagar para pensarmos na expansão”.